A Psicologia Social dos "Negs": Teoria da Dissonância Cognitiva e Atração

A interação humana é um campo complexo, regido por princípios sociais e psicológicos frequentemente operando em níveis subconscientes. No âmbito das dinâmicas de sedução, emergiu a controversa técnica dos "Negs", popularizada na subcultura do "PickUp Artist" (PUA). Um "Neg" é uma declaração ambígua e ligeiramente negativa feita à pessoa-alvo, supostamente com o objetivo de reduzir sua percepção de alto valor ou desqualificar sua própria autovalidação, ao mesmo tempo em que sinaliza um elevado valor do emissor. Esta redação científica explora a hipótese de que a Teoria da Dissonância Cognitiva de Leon Festinger (1957) pode oferecer uma estrutura explicativa para compreender os mecanismos psicológicos subjacentes à alegada eficácia dos "Negs" na geração de atração. Argumenta-se que, ao subverter as expectativas de validação em indivíduos tipicamente atraentes, um "Neg" calibrado pode induzir um estado de dissonância cognitiva, levando o alvo a reavaliar a fonte do "Neg" como intriga ou desafio, e a buscar validação, o que paradoxalmente aumenta seu investimento na interação e, potencialmente, sua atração. A discussão também aborda os fatores moderadores que determinam a eficácia e os importantes dilemas éticos associados ao uso de tais técnicas.

1. Introdução

A atração interpessoal é um pilar das relações sociais, com sua complexidade sendo objeto de estudo em diversas disciplinas, da psicologia social à biologia evolutiva. Enquanto a ciência busca desvendar os mecanismos subjacentes à atração, fenômenos sociais contemporâneos, como a comunidade "PickUp Artist" (PUA), propõem "técnicas" empíricas para influenciar esses processos. Entre as estratégias mais debatidas e controversas do repertório PUA, destaca-se o uso de "Negs". Definido como uma declaração ou ação ligeiramente negativa, ambígua e não um insulto direto, o "Neg" visa, paradoxalmente, aumentar o interesse e a atração do alvo.


A eficácia e a moralidade dos "Negs" são intensamente debatidas. Críticos os denunciam como uma forma de manipulação, potencialmente prejudicial à autoestima do alvo e promotora de dinâmicas de relacionamento não saudáveis. No entanto, a persistência de sua menção e uso em certas comunidades sugere que, sob condições específicas, eles podem, de fato, gerar as reações desejadas. Este ensaio científico propõe uma análise da técnica dos "Negs" através da lente da Teoria da Dissonância Cognitiva, desenvolvida por Leon Festinger em 1957. Argumentamos que, ao gerar uma discrepância entre a auto-percepção de valor do alvo e a validação inesperada recebida, um "Neg" calibrado pode induzir um estado de desconforto psicológico (dissonância), levando a uma reavaliação cognitiva que, em alguns casos, pode ser interpretada como aumento da atração. Esta análise busca transcender a mera descrição do fenômeno para explorar as raízes psicológicas de sua alegada funcionalidade, contrastando com as preocupações mais macroeconômicas e sistêmicas que dominavam o discurso público em 2007 (como a crise do "subprime"), demonstrando como a psicologia social se aprofunda nos fundamentos das interações humanas, independentemente das oscilações da esfera econômica.

2. A Teoria da Dissonância Cognitiva: Fundamentos e Aplicações

A Teoria da Dissonância Cognitiva, proposta por Leon Festinger em 1957, é um dos conceitos mais influentes da psicologia social, oferecendo uma poderosa explicação para a mudança de atitude e comportamento. A teoria postula que os indivíduos buscam a consistência entre suas cognições — pensamentos, crenças, valores, atitudes e comportamentos. Quando duas ou mais cognições são inconsistentes entre si, cria-se um estado de desconforto psicológico conhecido como dissonância cognitiva. Este estado aversivo motiva o indivíduo a reduzir a dissonância, buscando um estado de consonância.

As relações entre cognições podem ser consonantes (quando uma cognição segue logicamente da outra), dissonantes (quando uma cognição implica o oposto da outra) ou irrelevantes. A magnitude da dissonância depende de dois fatores principais: a importância das cognições envolvidas e o número de cognições dissonantes em relação às cognições consonantes. Quanto mais importantes as cognições e maior a proporção de cognições dissonantes, maior o desconforto e, consequentemente, maior a motivação para reduzi-lo (Festinger, 1957).

Festinger identificou diversas estratégias para reduzir a dissonância:

  1. Mudar uma das cognições: Por exemplo, mudar uma atitude ou crença para torná-la consistente com um comportamento.
  2. Mudar o comportamento: Alterar a ação para que ela se alinhe com as cognições existentes.
  3. Adicionar novas cognições consonantes: Introduzir novos elementos de informação que justifiquem a inconsistência.
  4. Diminuir a importância das cognições dissonantes: Convencer-se de que a inconsistência não é tão significativa.

Um dos estudos mais famosos de Festinger, o experimento de 1 dólar/20 dólares, ilustrou como a dissonância pode levar à mudança de atitude. Participantes que foram pagos apenas 1 dólar para mentir sobre o quão interessante uma tarefa chata era, experimentaram maior dissonância (pois mentiram por um valor trivial) e, consequentemente, avaliaram a tarefa como mais interessante do que aqueles que foram pagos 20 dólares (que tinham uma justificação externa suficiente para sua mentira) (Festinger & Carlsmith, 1959). A teoria da dissonância cognitiva tem sido aplicada para explicar uma vasta gama de fenômenos, desde a justificação do esforço até a conformidade forçada e a tomada de decisões, demonstrando a poderosa necessidade humana de consistência interna.

3. "Negs" no Contexto do "PickUp Artistry": Conceito e Propósito

No vocabulário da subcultura "PickUp Artist" (PUA), um "Neg" (do inglês "negative" ou "negate") é uma declaração, pergunta ou ação sutilmente negativa, ambígua ou levemente desqualificadora, direcionada a uma pessoa-alvo, geralmente uma mulher atraente. É crucial diferenciar um "Neg" de um insulto direto; enquanto um insulto visa agredir e rebaixar, um "Neg" é concebido para ser um desafio leve, uma "desqualificação" que não é explicitamente hostil, mas que subverte as expectativas de validação imediata (Strauss, 2005).

A origem do termo e sua popularização remontam às comunidades PUA das décadas de 1990 e 2000, com Místery (Erik von Markovik) sendo um dos proponentes notáveis dessa técnica. O objetivo declarado dos "Negs" é multifacetado e psicologicamente calculado:

  1. Reduzir a Auto-validação: Mulheres atraentes são frequentemente bombardeadas com elogios e validação social por parte de homens. O PUA argumenta que essa validação constante as torna complacentes e, paradoxalmente, menos responsivas a mais elogios. Um "Neg" visa "quebrar" essa "auto-validação" ou complacência, tirando o alvo do seu "platô de conforto".
  2. Sinalizar Alto Valor (Diferenciação): Ao não elogiar abertamente ou até mesmo oferecer uma leve crítica, o emissor do "Neg" supostamente sinaliza que não está "impressionado" ou desesperado por atenção. Isso o diferencia da maioria dos outros homens ("Average Frustrated Chumps" - AFCs, no jargão PUA) que se esforçam para validar a mulher. Essa postura de desinteresse ou desafio é interpretada como um sinal de alto valor, confiança e pré-seleção (outras mulheres já o acham atraente), tornando-o mais atraente.
  3. Criar um Desafio e Intrigua: Um "Neg" bem calibrado pode criar um senso de mistério ou desafio. A pessoa-alvo pode ficar intrigada sobre por que essa pessoa "diferente" não está reagindo como os outros. Isso pode gerar um esforço para "provar" seu valor ou para "ganhar" a validação do emissor do "Neg".
  4. Evitar a "Friend Zone": Ao estabelecer uma dinâmica de leve desafio e não validação excessiva desde o início, o PUA busca evitar ser percebido como apenas um amigo ou um "cara legal" que busca aprovação.

Exemplos de "Negs" podem variar de observações sutis sobre a aparência ("Essa sua pulseira parece de criança, mas é fofa"), a comentários sobre um traço de personalidade ("Você é divertida, mas parece um pouco dramática, não?"), ou até mesmo um toque físico ligeiramente desqualificador (e.g., um leve empurrão brincalhão no ombro como se dissesse "você é um pouco exagerada"). A chave, segundo a doutrina PUA, é a calibração: o "Neg" deve ser leve o suficiente para não ofender diretamente, mas forte o suficiente para gerar uma pontada de incerteza ou intriga.

🧱 Mitos sobre "Negs" e dissonância cognitiva

💬 Você pensa que usar um "neg" é apenas uma brincadeira inofensiva
Mesmo sutis, essas mensagens afetam autoestima e geram tensão interna.

😎 Você acredita que "negar" alguém aumenta automaticamente sua atração por você
O desconforto causado pode atrair — ou afastar, dependendo do contexto e da intenção.

🧠 Você acha que quem sofre um neg entende racionalmente o que está acontecendo
A confusão emocional ocorre antes do entendimento racional.

🔥 Você supõe que provocar dissonância sempre gera desejo de aproximação
Pode também causar repulsa, raiva ou bloqueio social.

🪞 Você acredita que o outro reage ao neg por causa do que você disse
A reação vem do conflito interno, não da lógica do comentário.

💔 Você pensa que o desconforto gerado é prova de interesse real
Pessoas inseguras podem responder positivamente por carência, não atração.

🎯 Você crê que quem usa neg domina a situação
Muitas vezes é uma tentativa mal disfarçada de controle por insegurança.

📱 Você acha que o uso de negs é eficaz online como no presencial
O efeito perde força no digital — e aumenta o risco de rejeição direta.

🗣️ Você imagina que um neg bem feito parece um elogio inteligente
O ouvinte sente a tensão, mesmo que o tom seja “gentilmente” irônico.

🚩 Você acredita que essa técnica mostra confiança e poder social
Na verdade, ela revela insegurança e desejo de validação disfarçado.


✅ Verdades elucidadas sobre "Negs" e atração

🧠 Você percebe que o neg gera dissonância cognitiva: o elogio e a crítica coexistem
Isso deixa o outro em estado de dúvida e vulnerabilidade emocional.

🪞 Você entende que o desconforto faz a pessoa buscar coerência — e, às vezes, aceitação
A mente tenta resolver a contradição se aproximando de quem causou.

🧩 Você usa linguagem ambígua e indireta para criar tensão emocional disfarçada
O impacto psicológico é real, mesmo que sutil.

🧠 Você manipula percepção, não com lógica, mas com emoção e ego
A mente quer entender — o coração quer agradar.

⚠️ Você brinca com autoestima do outro para se colocar como validador social
Isso pode te fazer parecer “superior” — mas também cruel.

🧭 Você força o outro a buscar aprovação de alguém que já o feriu levemente
Esse ciclo pode prender emocionalmente ou causar fuga imediata.

🎭 Você entende que esse tipo de técnica não gera conexão autêntica
Relacionamentos reais não nascem da dúvida, mas da clareza.

💬 Você nota que pessoas emocionalmente maduras reconhecem e rejeitam negs com facilidade
Segurança emocional desmonta manipulação.

🚫 Você aceita que esse comportamento reforça jogos emocionais — e não laços saudáveis
A atração gerada pela confusão é instável e frágil.

🧠 Você reconhece que a dissonância cognitiva pode ser usada para bem — ou para controle
A ética está na intenção por trás da ação.


📊 Projeções de soluções aplicáveis e conscientes

👂 Você ouvirá mais e falará menos, criando conexão real em vez de provocar tensão emocional
Escuta ativa constrói vínculos verdadeiros.

📖 Você estudará a teoria da dissonância para entender como ela afeta relações interpessoais
Conhecimento liberta — manipulação aprisiona.

🚦 Você aprenderá a identificar quando alguém está tentando desequilibrar sua autoestima
Reconhecer é o primeiro passo para se proteger.

🎭 Você buscará autenticidade e segurança em vez de estratégias para criar “mistério” artificial
O verdadeiro poder está na transparência.

🧠 Você usará a psicologia como ponte para empatia — não como arma social
Informação deve curar, não ferir.

🧘 Você praticará estabilidade emocional para não reagir com carência a provocações sutis
Respostas conscientes nascem do autocuidado.

💬 Você cultivará conversas honestas, mesmo nos jogos de flerte e atração
Seduza com verdade, não com jogo.

🎯 Você desenvolverá carisma com integridade — sem depreciar ninguém
Confiança sem ataque vale mais do que ironia com ego.

📱 Você educará novas gerações para reconhecer abusos disfarçados de charme
Relações saudáveis começam com respeito.

🤝 Você construirá sua presença social com base em autenticidade, humor e empatia
Ser interessante não exige desvalorizar o outro.


📜 10 mandamentos sobre ética e autoconsciência na comunicação social

🧠 Você estudará psicologia social com respeito e responsabilidade
Saber como o outro funciona não te dá o direito de manipulá-lo.

💬 Você será direto com elegância — e nunca ambíguo para causar confusão
Clareza atrai, ambiguidade enfraquece.

🎭 Você evitará provocar insegurança como meio de chamar atenção
Se você precisa diminuir alguém para se destacar, reveja suas motivações.

👂 Você escutará sinais verbais e não verbais de desconforto alheio
Empatia se manifesta em silêncio também.

⚠️ Você não confundirá sedução com controle emocional
Afeto não nasce de armadilhas.

🪞 Você reconhecerá seu valor sem precisar rebaixar o do outro
Autorrespeito não exige humilhar ninguém.

🤝 Você criará vínculos com base em reciprocidade emocional
Relações fortes vêm da verdade — não da tensão proposital.

🧬 Você entenderá que palavras moldam sentimentos — para o bem ou para o trauma
Fale com responsabilidade emocional.

📱 Você rejeitará técnicas disfarçadas de “charme” que geram dependência ou dúvida
Carisma verdadeiro é leve — não confuso.

🚫 Você se posicionará contra qualquer forma de manipulação emocional disfarçada de sedução
Você lidera com consciência — não com truques.

4. A Conexão: "Negs", Dissonância Cognitiva e a Geração de Atração

A hipótese central deste ensaio é que um "Neg" calibrado opera como um gatilho para a dissonância cognitiva no indivíduo-alvo, e a forma como essa dissonância é resolvida pode, paradoxalmente, aumentar a atração pelo emissor do "Neg".

Considere o cenário típico onde um "Neg" é aplicado: a pessoa-alvo é geralmente alguém atraente, acostumada a receber atenção positiva e validação de seus pares e potenciais parceiros. Sua cognição 1 é: "Eu sou uma pessoa atraente, valorizada e digna de elogios/atenção positiva". Quando ela encontra o emissor do "Neg", que subverte essa expectativa de validação imediata, a cognição 2 surge: "Esta pessoa não está me validando/está me desafiando/está sendo ligeiramente crítica".


A inconsistência entre "Eu sou atraente e digna de validação" e "Esta pessoa não me valida como eu espero" gera um estado de dissonância cognitiva. O desconforto psicológico resultante motiva o indivíduo-alvo a restaurar a consonância. Existem várias maneiras de reduzir essa dissonância, e algumas delas podem levar ao aumento da atração:

  1. Adição de Novas Cognições Consonantes (Aumento do Valor do Emissor): Esta é a via mais favorável à geração de atração. Para justificar por que alguém não a está validando, o alvo pode adicionar novas cognições que elevam o valor percebido do emissor do "Neg". Ela pode inferir: "Essa pessoa deve ser de muito alto valor para não precisar me validar", ou "Essa pessoa é interessante/desafiadora/diferente, não é como os outros que me bajulam". Ao atribuir um status elevado ou uma singularidade intrigante ao emissor, a dissonância é resolvida porque o "Neg" passa a ser justificado por uma característica positiva da fonte, paradoxalmente elevando o valor da fonte na mente do alvo. Este é um mecanismo similar à justificação do esforço, onde o esforço para obter algo (neste caso, validação ou atenção) leva a uma maior valorização desse algo ou de sua fonte (Aronson & Mills, 1959).
  2. Mudança da Cognição sobre Si Mesma (Busca de Validação): Embora menos provável para a autoestima central, a pessoa-alvo pode ter uma momentânea dúvida sobre sua percepção de valor: "Talvez eu não seja tão atraente/valorizada quanto penso, ou pelo menos não para essa pessoa". Para reduzir essa dissonância, ela pode ser motivada a buscar a validação do emissor do "Neg", aumentando seu investimento na interação (e.g., rindo mais, fazendo perguntas, tentando impressionar). Esse aumento do investimento próprio, por sua vez, pode levar a um aumento da atração pelo emissor, em um ciclo de justificação do esforço.
  3. Desvalorização da Fonte (Repulsa): Esta é a via que ocorre quando o "Neg" é mal calibrado e percebido como um insulto franco ou quando o emissor já é visto como de baixo valor. A pessoa-alvo resolve a dissonância mudando a cognição sobre a fonte: "Essa pessoa é rude/idiota e sua opinião não importa". Neste caso, o "Neg" não gera atração, mas sim repulsa e desinteresse. A teoria da dissonância cognitiva é poderosa porque não prediz um resultado único, mas sim a necessidade de reduzir a dissonância, e a estratégia escolhida depende de múltiplos fatores contextuais e individuais.

O "Neg" também pode ser visto como parte de uma estratégia de "Push-Pull", onde o PUA alterna entre "aproximar" (mostrar interesse, elogiar) e "afastar" (o "Neg", um sinal de desinteresse ou desafio). Essa ambiguidade e a montanha-russa emocional podem ser intrínsecas à atração, pois o cérebro humano é mais engajado por estímulos inconsistentes e desafiadores do que por validação constante e previsível (Berscheid & Hatfield, 1969). A ambiguidade inerente aos "Negs" impede uma categorização imediata e fomenta a ruminação sobre a interação, mantendo o emissor em destaque na mente do alvo, o que, por si só, pode ser um precursor da atração.

5. Fatores Moderadores e Limitações da Aplicação

A aplicação da Teoria da Dissonância Cognitiva para explicar os "Negs" não implica uma eficácia universal. A realidade é que a performance de um "Neg" é altamente dependente de múltiplos fatores moderadores:

  • Calibração: Este é o fator mais crítico. Um "Neg" precisa ser sutil o suficiente para não ser percebido como um insulto. Ele deve criar uma leve tensão, não um ataque direto. A diferença entre "Essa sua roupa está um pouco amassada" (um possível "Neg") e "Sua roupa é horrível" (um insulto) é abismal em termos de resposta. Um insulto direto não induzirá dissonância que leva à atração; induzirá raiva ou repulsa.
  • Contexto Social: O ambiente (bar, biblioteca, festa, online), o ruído, a presença de amigos do alvo ou do PUA, e o tipo de interação inicial, todos influenciam a interpretação do "Neg". Um "Neg" em um ambiente divertido pode ser visto como brincadeira, enquanto o mesmo "Neg" em um contexto formal pode ser percebido como inadequado.
  • Credibilidade e Status do Emissor: O valor percebido do PUA antes do "Neg" é crucial. Se o PUA já é percebido como de baixo valor ou socialmente inepto, um "Neg" será apenas rude e confirmará o baixo valor do emissor, resultando em repulsa (Fiske et al., 2007). No entanto, se o emissor for percebido como confiante, bem-sucedido ou com status social, o "Neg" pode ser interpretado como um "teste" ou uma observação válida, aumentando a dissonância positiva.
  • Características do Alvo: A autoestima da pessoa-alvo desempenha um papel significativo. Indivíduos com autoestima muito baixa podem ser excessivamente sensíveis a qualquer crítica, interpretando um "Neg" como uma confirmação de sua insegurança, o que pode levá-los a se retrair. Por outro lado, indivíduos com autoestima muito alta podem simplesmente desconsiderar o "Neg" como irrelevante ou mal-intencionado. A eficácia parece residir em um "sweet spot" onde o alvo é seguro o suficiente para não se sentir completamente atacado, mas incerto o suficiente para se envolver na resolução da dissonância.
  • O "Neg" como parte de um Pacote: Os "Negs" não operam no vácuo. Eles são tipicamente uma pequena parte de um conjunto maior de comportamentos (confiança, humor, linguagem corporal, contato visual, storytelling, escuta ativa, etc.) que o PUA emprega. A atração é um fenômeno holístico, e o "Neg" pode ser apenas um catalisador em um processo mais amplo de sinalização de valor e criação de intriga.
  • Falta de Evidência Empírica Direta: Embora a Teoria da Dissonância Cognitiva seja robusta e bem suportada por evidências empíricas (Cooper, 2007), a aplicação específica dessa teoria aos "Negs" no contexto PUA é largely especulativa e carece de estudos experimentais controlados que comprovem diretamente a relação causal entre "Negs", indução de dissonância e atração. A maioria das alegações sobre a eficácia dos "Negs" provém de relatos anedóticos e observações informais dentro da comunidade PUA.

6. Implicações Éticas e Críticas

A análise dos "Negs" através da lente da psicologia social não pode ignorar as profundas implicações éticas e as críticas a essa prática.

  • Manipulação Psicológica: O uso intencional de "Negs" é, por definição, uma forma de manipulação. A intenção é influenciar o estado psicológico e o comportamento do alvo sem seu consentimento explícito e de forma que pode não estar alinhada com seus interesses genuínos. Isso levanta questões sobre autonomia e respeito na interação social (Beauchamp & Childress, 2013).
  • Potencial de Dano Psicológico: Mesmo que um "Neg" seja sutil, a intenção de semear a dúvida sobre a auto-percepção de valor de outra pessoa é problemática. Para indivíduos vulneráveis, ou em contextos onde a linha entre "Neg" e insulto é tênue, pode haver um impacto negativo real na autoestima e no bem-estar psicológico.
  • Autenticidade da Atração e Relações Superficiais: Se a atração é gerada através da manipulação da dissonância cognitiva, questiona-se a autenticidade e a profundidade dessa conexão. Relações construídas sobre a base de técnicas de "jogo" correm o risco de serem superficiais e carecerem de genuína empatia, respeito e intimidade, que são pilares de relacionamentos saudáveis e duradouros.
  • Fomento de Dinâmicas Não Saudáveis: A lógica dos "Negs" encoraja uma dinâmica onde uma pessoa busca validação e a outra a retém ou a fornece condicionalmente. Isso pode levar a relações de poder desequilibradas, onde uma parte está constantemente buscando a aprovação da outra, uma dinâmica que é frequentemente associada a padrões abusivos.
  • Misoginia Implícita: A premissa subjacente à necessidade de "Negs" – a ideia de que mulheres atraentes são "arrogantes" ou "complacentes" e precisam ser "humilhadas" ou "desafiadas" para se tornarem interessadas – pode refletir e perpetuar visões misóginas. Essa mentalidade reforça estereótipos e desconsidera a agência e a complexidade das mulheres como indivíduos.
  • Falta de Transparência: As técnicas PUA operam sob o véu da intencionalidade oculta. A ausência de transparência sobre as intenções manipuladoras contraria os princípios de comunicação honesta e respeito mútuo, essenciais para interações sociais saudáveis.

7. Conclusão

A Teoria da Dissonância Cognitiva oferece uma lente teórica plausível para entender por que a técnica dos "Negs", popularizada na subcultura PUA, pode, em certas condições, gerar interesse e atração. Ao subverter as expectativas de validação e criar uma inconsistência cognitiva, um "Neg" calibrado pode levar o alvo a reavaliar a fonte do "Neg" como de alto valor ou intrigante, aumentando seu investimento na interação para resolver o desconforto psicológico. Essa justificação do esforço e a reatribuição de valor à fonte podem levar a um aumento da atração.

No entanto, é fundamental enfatizar que a eficácia dos "Negs" é altamente dependente de uma calibração precisa, do contexto social, das características do alvo e do valor percebido do emissor. Um "Neg" mal executado é simplesmente um insulto e provavelmente levará à repulsa. Além disso, as considerações éticas associadas ao uso de "Negs" são substanciais. A natureza manipuladora dessa técnica e o potencial de dano psicológico levantam sérias questões sobre a autenticidade da atração gerada e a saúde das relações que podem surgir a partir dela.

Em última análise, embora a psicologia social nos forneça ferramentas para analisar e compreender os mecanismos subjacentes a comportamentos de interação humana, por mais controversos que sejam, isso não valida seu uso indiscriminado. O estudo dos "Negs" sob a perspectiva da dissonância cognitiva nos lembra da poderosa necessidade humana de consistência interna e da complexidade das dinâmicas de atração. Enquanto, em 2007, as discussões se centravam em colapsos de sistemas de macroescala como o "subprime", o estudo da psique humana continua a revelar intrincadas redes de causa e efeito, enfatizando que a compreensão da atração genuína e das relações saudáveis reside muito além da manipulação de inconsistências cognitivas. A ciência deve buscar não apenas compreender, mas também promover interações humanas que valorizem a autenticidade, o respeito e a empatia.


Referências

Aronson, E., & Mills, J. (1959). The effect of severity of initiation on liking for a group. Journal of Abnormal and Social Psychology, 59(2), 177–181.

Beauchamp, T. L., & Childress, J. F. (2013). Principles of biomedical ethics (7th ed.). Oxford University Press.

Berscheid, E., & Hatfield, E. (1969). Interpersonal attraction. Addison-Wesley.

Cooper, J. (2007). Cognitive dissonance: 50 years of a classic theory. Sage Publications.

Festinger, L. (1957). A theory of cognitive dissonance. Stanford University Press.

Festinger, L., & Carlsmith, J. M. (1959). Cognitive consequences of forced compliance. Journal of Abnormal and Social Psychology, 58(2), 203–210.

Fiske, S. T., Cuddy, A. J. C., & Glick, P. (2007). Universal dimensions of social cognition: Warmth and competence. Trends in Cognitive Sciences, 11(2), 77–83.

Strauss, N. (2005). The Game: Penetrating the Secret Society of Pickup Artists. ReganBooks.

Fábio Pereira

A história de Fábio Pereira é um testemunho vívido dos desafios e conquistas enfrentados na busca por harmonia entre os pilares fundamentais da vida: relacionamento, carreira e saúde. Ao longo de sua jornada, Fábio descobriu que o sucesso verdadeiro não está apenas em alcançar metas profissionais, mas sim em integrar essas realizações a uma vida plena e satisfatória em todos os aspectos.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem